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Arte de fazer jornal diario

quinta-feira, 3 de março de 2011
AngelaeCris

A Arte de Fazer um Jornal Diário

“Jornalismo, independente de qualquer definição acadêmica, é uma fascinante batalha pela conquista das mentes e corações de seus alvos: leitores, telespectadores e ouvintes”. (Clovis Rossi. O que é Jornalismo. P. 7)

Quando eu decidi ingressar no curso de jornalismo, tinha em mente o fato de que eu gostava de escrever e, principalmente, minha vontade de mudar o mundo. Acreditava que ser jornalista, podia não se o Super Homem, mas se aproximava muito de um Clark Kente. Sonhava que um dia eu poderia publicar uma reportagem, investigativa, que denunciasse todas as falcatruas do governo, e ver meu país melhor do dia pra noite. Queria mudar o mundo, e acreditei que o jornalismo seria minha melhor arma contra as injustiças. Será que fui muito ingênuo?

Não tinha como voltar atrás. Já estava na faculdade quando Ricardo Noblat escreveu que “os jornalistas têm medo de apresentar os fatos como eles são (…) assim procedem por incompetência, conservadorismo ou ideologia” (P. 121). Quando li, meu Super Homem pareceu um pouco mais abatido e já não combatia mais o crime, porém, ainda hera super herói. Afinal, eu poderia mudar aquilo. Quem sabe?

No segundo dia de aula, um professor me explicou que diferença entre um médico e um jornalista, é que o primeiro, quando comete um erro, mata um paciente, e o jornalista, por sua vez, se errar, pode acabar com a vida de várias pessoas ao mesmo tempo. Daí, vemos quão importante é a profissão e como deve ser exercida com extrema responsabilidade. Porém, por muitas vezes, não e o que acontece. Cada vez mais, vemos nas nossas redações seres estúpidos, que se intitulam jornalistas, muitas vezes sem ter um diploma sequer, apenas transcrevendo os press releases que lhes chegam às mãos. Quando não estão fazendo matérias em cima de releases, estão cozinhando alguma coisa da Internet, ou estão envolvidos em alguma pauta que promova os anunciantes.

Tudo bem, estou generalizando, mas é porque a situação está triste. Muito triste. Mas citando Ricardo Kotsho, nos tornamos filhos da pauta. No primeiro capítulo do livre “A arte de se fazer um jornal diário”, de Ricardo Noblat, logo na primeira página, ele transcreve uma conversa entre um jornalista e um leitor que pergunta: “Por que os jornais estão todos iguais?”. É difícil aceitar, mas precisamos mudar. A decadência do jornal diário é a prova disso. No livro, Noblat mostra alguns dados que comprovam o que quero dizer:

Queda de 7,2% na publicidade.

Desde 1977 os jornais crescem em media anual 4,8%. À partir de 2002 esse número passou a ser de apenas 0,46%.

Entre março de 2001 e março de 2002, os 15 maiores jornais brasileiros (que representam 74% do volume total de exemplares) diminuíram em 12% sua circulação, o equivalente a 346.37 exemplares.

Jovens cada vez mais abandonam os jornais.

A internet como fonte de notícias aumentou nos Estados Unidos em 127% entre 1997 e 2000.

A direção do The New York Times descobriu em 2001 que os leitores liam apenas 10% do jornal.

Essa decadência é a melhor prova de que precisamos começar a fazer alguma coisa diferente. Para começar, precisamos refletir melhor sobre uma frase de Noblat: “Um jornal é, ou deveria ser, um espelho da consciência crítica de uma comunidade em determinado espaço de tempo. Um espelho que reflita com nitidez a dimensão aproximada ou real dessa consciência” (p. 21). Será que um dia essa frase se tornará verídica?

Pauta: deveria orientar os repórteres para o que devem fazer no seu dia-a-dia, essa é a teoria. Mas na prática a coisa muda. As pautas parecem ser feitas de alguma luz muito forte porque, na maioria das vezes, cegam o jornalista. O homem da comunicação chega na redação, recebe alguma pauta, que chega até a ser besta, reclamam alguma vezes que a pauta é fraca, em certas ocasiões com razão, e vão à rua escrever exatamente como a pauta explicou. Parecem que não sabem que “notícia em entrevista (…) pode estar também no silêncio dele (do entrevistado), na irritação que demonstra diante de uma pergunta, no sorriso que esboça quando escuta outra, na recusa em responder uma determinada questão” (P. 70). É preciso fugir um pouco da camisa de força chamada pauta.

Isso acarreta que todos os jornais parecem iguais! Nunca pensariam que “erro de informação também é matéria de interesse público” (P 39). Ninguém sai do feijão com arroz. Talvez se o leitor tivesse vez no jornal…. o que será que aconteceria? Se colocássemos em prática o que Noblat sugere: “não basta ouvir o leitor. Tem que deixá-lo interagir”.

E os jovens? O que é feito para agradar os jovens nos jornais? Ricardo Noblat coloca no livro: “Nada”! Já não seria hora de isso mudar? A realidade do jornalismo hoje se resume a textos pré formatados e que não precisam agradar ninguém além dos que os escrevem. É preciso fugir. É preciso mudar. É preciso lutar. E não importa o que… é preciso fazer alguma coisa.

Com o avanço da tecnologia, talvez um dia “os computadores poderão até dispensar os repórteres”, precisão de Nós Tradamos, ou melhor, Ricardo Kotsho. Acredito que não precisamos temer isso, afinal, hoje os repórteres não passam de computadores, então, o que mudaria? Quase nada…

Escrito em: 13 de setembro de 2004

Nota: Esse foi um dos primeiros textos que me motivaram a estudar mais afundo as mudanças que o jornalismo sofreu. Esse livro do Noblat, sem dúvida, foi um dos pontos de partida para o meu TCC: “Do Jornalismo Ideal ao Tempo Real”, aprovado com êxito em 2005.

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